UM POUCO SOBRE O GÊNIO GUIMARÃES ROSA

Eu, repórter de estrada e de escuta, aceito o desafio de refazer esse percurso — de moto — não para copiar passos, mas para ouvir o rumor que ficou. O sertão, quando a gente atravessa, atravessa a gente de volta.

Falar de Guimarães Rosa é pisar num chão onde palavra vira vereda. Às vezes me perco tentando separar o homem da obra — e desisto: em Rosa, o autor e seus personagens se entrecruzam como rios que se encontram e seguem mais largos. Se me perguntam por ídolos, hoje não vacilo: tenho, sim. João Guimarães Rosa — o Joãozito da família — é o meu.

Já se perguntou onde fica, de fato, o sertão que Rosa escreveu? Em maio de 1952, ele montou numa experiência radical: acompanhou vaqueiros por dez dias e 250 km, de Três Marias à Fazenda São Francisco, em Araçai. Anotou tudo: paisagens, falares, silêncios.

Nasceu em Cordisburgo, a 21 de junho de 1908, e fez do sertão mais do que cenário: fez dele linguagem, filosofia, reinvenção. Grande sertão: veredas é seu romance maior, um mapa da alma brasileira. Ao longo da vida, vieram prêmios, leituras, reconhecimentos — daqueles que o colocam no alto da nossa literatura, ao lado de Clarice Lispector e João Cabral de Melo Neto. E há um gesto que me comove: tomar posse na Academia Brasileira de Letras e, três dias depois, despedir-se do mundo. Rosa vive ainda porque suas palavras não aceitaram morrer.

Às vezes me perco tentando separar o homem da obra — e desisto: em Rosa, o autor e seus personagens se entrecruzam como rios que se encontram e seguem mais largos. Se me perguntam por ídolos, hoje não vacilo: tenho, sim. João Guimarães Rosa — o Joãozito da família — é o meu.

Caminhos de Rosa — a trilha que ainda fala

Já se perguntou onde fica, de fato, o sertão que Rosa escreveu? Em maio de 1952, ele montou numa experiência radical: acompanhou vaqueiros por dez dias e 250 km, de Três Marias à Fazenda São Francisco, em Araçai. Anotou tudo: paisagens, falares, silêncios. Desse caderno nasceu A Boiada e, com ele, um itinerário afetivo que hoje chamamos de Caminhos de Rosa.

Eu, repórter de estrada e de escuta, aceito o desafio de refazer esse percurso — de moto — não para copiar passos, mas para ouvir o rumor que ficou. O sertão, quando a gente atravessa, atravessa a gente de volta.

Eu, repórter de estrada e de escuta, aceito o convite de refazer esse percurso — a pé ou de bicicleta — não para copiar passos, mas para ouvir o rumor que ficou. O sertão, quando a gente atravessa, atravessa a gente de volta.

Para quem vai comigo

  • Clima & horário. As manhãs ajudam: pouca chance de chuva e um fresco que acompanha até por volta das 10h. Entre 10h e 15h, o sol engrossa a voz: hidratação e chapéu viram aliados.
  • Terreno. Predominam estradas de terra; o asfalto aparece nas áreas urbanas. Mesmo as rodovias do trajeto servem mais ao trânsito local. O movimento é curto; a gentileza, grande: moradores já conhecem os caminhantes e costumam ser solícitos.
  • Percurso. Dividimos a rota em trechos com níveis de dificuldade, descrição de condições, dicas trecho a trecho e o que cada pedaço oferece de paisagem, pouso e prosa.
  •  

Curiosidades que levo na mochila

  • Cordisburgo (1908): berço e destino de retorno em muitas páginas.
  • Estilo: regionalismo reinventado — palavra que vira bicho, vento, gente.
  • Obra maior: Grande sertão: veredas, único romance, montanha de livros dentro de um livro.
  • Reconhecimentos: prêmios como Filipe d’Oliveira, Machado de Assis, Carmen Dolores Barbosa, Paula Brito, PEN Clube; presença em listas internacionais de “melhores de todos os tempos”.
  • Farewell: posse na ABL em 16/11/1967; despedida em 19/11/1967, aos 59 anos.
  •  

Sigo porque quero que mais gente descubra que um livro é mais que letras: é um modo de estar no mundo. Se você deixar Rosa lhe tocar, a vereda se abre — e, então, eu, jornalista de andanças, dou por cumprida a missão.

Aurélio Vidal — Jornalista

Veja Mais

Artigos Relacionados:

Centro de Grão Mogol, com a igreja e a praça da cidade.

Grão Mogol: a cidade das pedras e das águas encanta com sua história e belezas naturais

Localizada na parte mais alta da Serra Geral, no Norte de Minas Gerais, Grão Mogol é um destino que transborda belezas naturais, biodiversidade e uma rica herança ligada aos diamantes e ao período colonial dos séculos XVI e XIX. A história pulsante dessa cidade pode ser encontrada nas ruas e vielas, cuja pavimentação foi erguida com a mão de obra dos escravizados. Nas trilhas e

Tenho acompanhado de perto a dura rotina do nosso povo aqui no sertão norte mineiro — homens e mulheres que insistem em trabalhar a terra, mesmo enfrentando os longos e cruéis períodos de estiagem.

CISTERNAS E PROMESSAS: O SERTÃO NÃO PRECISA DE BALDES D’ÁGUA, MAS DE OBRAS ESTRUTURANTES

Por Aurélio Vidal Tenho acompanhado de perto a dura rotina do nosso povo aqui no sertão norte mineiro — homens e mulheres que insistem em trabalhar a terra, mesmo enfrentando os longos e cruéis períodos de estiagem. Quem vive essa realidade sabe que o problema da seca não se resolve com promessas sazonais nem com paliativos políticos. No entanto, mais uma vez, vemos um velho

Um dos pilares da economia de São João do Paraíso, no extremo norte de Minas Gerais, tem raízes antigas e doces. Literalmente doces.

SÃO JOÃO DO PARAÍSO — A CAPITAL DO DOCE DE MARMELO

Um dos pilares da economia de São João do Paraíso, no extremo norte de Minas Gerais, tem raízes antigas e doces. Literalmente doces. É o cultivo do marmeleiro (Cydonia oblonga), planta originária da Ásia Menor e do Sudeste da Europa, que há séculos encanta paladares e sustenta famílias inteiras. Conhecido também como Pereira-do-Japão ou Marmeleiro-da-Europa, o fruto dessa árvore, o marmelo, deu origem a um

A justiça foi feita Três meses depois do ocorrido, o caso começou a se esclarecer. E agora, em outubro de 2025, o Tribunal do Condado de Orange finalmente reconheceu o que Vinícius e Géssica diziam desde o início: eram inocentes.

“A VERDADE PREVALECEU: O CASAL SALINENSE INOCENTADO NOS ESTADOS UNIDOS”

Por Aurélio Vidal Durante minhas andanças jornalísticas pelo Norte de Minas, poucas histórias me tocaram tanto quanto esta — não apenas pelo teor humano, mas também pelo simbolismo que carrega: o de ver a justiça, de fato, acontecer. Falo do casal Antônio Vinícius de Novais Cardoso e Géssica (ou Gessyca) Martins Novais, naturais do nosso sertão mineiro, ele da querida cidade de Salinas, ela também

A Credinor tem um motivo especial para comemorar. A gerente da agência João XXIII, Emanuelle Collares, conquistou a Certified Financial Planner (CFP), uma distinção internacional reconhecida como uma das mais exigentes do mercado financeiro.

CERTIFICAÇÃO INTERNACIONAL REFORÇA PROTAGONISMO FEMININO NO SICOOB CREDINOR

Emanuelle Collares conquista o título CFP, uma das credenciais mais respeitadas do mercado financeiro mundial A cooperativa Credinor tem mais um motivo de orgulho: a gerente da agência João XXIII, Emanuelle Collares, alcançou a Certified Financial Planner (CFP), certificação de padrão internacional reconhecida por sua exigência técnica e rigor ético. O título, concedido a poucos profissionais no Brasil, é símbolo de excelência no planejamento financeiro

Centro de Grão Mogol, com a igreja e a praça da cidade.

Grão Mogol: a cidade das pedras e das águas encanta com sua história e belezas naturais

Localizada na parte mais alta da Serra Geral, no Norte de Minas Gerais, Grão Mogol é um destino que transborda belezas naturais, biodiversidade e uma rica herança ligada aos diamantes e ao período colonial dos séculos XVI e XIX. A história pulsante dessa cidade pode ser encontrada nas ruas e vielas, cuja pavimentação foi erguida com a mão de obra dos escravizados. Nas trilhas e

Tenho acompanhado de perto a dura rotina do nosso povo aqui no sertão norte mineiro — homens e mulheres que insistem em trabalhar a terra, mesmo enfrentando os longos e cruéis períodos de estiagem.

CISTERNAS E PROMESSAS: O SERTÃO NÃO PRECISA DE BALDES D’ÁGUA, MAS DE OBRAS ESTRUTURANTES

Por Aurélio Vidal Tenho acompanhado de perto a dura rotina do nosso povo aqui no sertão norte mineiro — homens e mulheres que insistem em trabalhar a terra, mesmo enfrentando os longos e cruéis períodos de estiagem. Quem vive essa realidade sabe que o problema da seca não se resolve com promessas sazonais nem com paliativos políticos. No entanto, mais uma vez, vemos um velho

Um dos pilares da economia de São João do Paraíso, no extremo norte de Minas Gerais, tem raízes antigas e doces. Literalmente doces.

SÃO JOÃO DO PARAÍSO — A CAPITAL DO DOCE DE MARMELO

Um dos pilares da economia de São João do Paraíso, no extremo norte de Minas Gerais, tem raízes antigas e doces. Literalmente doces. É o cultivo do marmeleiro (Cydonia oblonga), planta originária da Ásia Menor e do Sudeste da Europa, que há séculos encanta paladares e sustenta famílias inteiras. Conhecido também como Pereira-do-Japão ou Marmeleiro-da-Europa, o fruto dessa árvore, o marmelo, deu origem a um

A justiça foi feita Três meses depois do ocorrido, o caso começou a se esclarecer. E agora, em outubro de 2025, o Tribunal do Condado de Orange finalmente reconheceu o que Vinícius e Géssica diziam desde o início: eram inocentes.

“A VERDADE PREVALECEU: O CASAL SALINENSE INOCENTADO NOS ESTADOS UNIDOS”

Por Aurélio Vidal Durante minhas andanças jornalísticas pelo Norte de Minas, poucas histórias me tocaram tanto quanto esta — não apenas pelo teor humano, mas também pelo simbolismo que carrega: o de ver a justiça, de fato, acontecer. Falo do casal Antônio Vinícius de Novais Cardoso e Géssica (ou Gessyca) Martins Novais, naturais do nosso sertão mineiro, ele da querida cidade de Salinas, ela também

A Credinor tem um motivo especial para comemorar. A gerente da agência João XXIII, Emanuelle Collares, conquistou a Certified Financial Planner (CFP), uma distinção internacional reconhecida como uma das mais exigentes do mercado financeiro.

CERTIFICAÇÃO INTERNACIONAL REFORÇA PROTAGONISMO FEMININO NO SICOOB CREDINOR

Emanuelle Collares conquista o título CFP, uma das credenciais mais respeitadas do mercado financeiro mundial A cooperativa Credinor tem mais um motivo de orgulho: a gerente da agência João XXIII, Emanuelle Collares, alcançou a Certified Financial Planner (CFP), certificação de padrão internacional reconhecida por sua exigência técnica e rigor ético. O título, concedido a poucos profissionais no Brasil, é símbolo de excelência no planejamento financeiro

Quer ver mais conteúdos?

Assine Nossa Newsletter

E fique por dentro do contexto de Minas e de tudo que acontece no Brasil e no mundo.

Pod Sertão Pautando o melhor do Sertão Mineiro

Olá, visitante