Por Aurélio Vidal
Em minhas viagens pelo Norte de Minas, poucas cidades carregam tanta história quanto São Romão, uma das mais antigas comarcas da região. Quando chego às margens largas do Velho Chico, sempre sinto que ali o tempo repousa diferente — como se o rio guardasse, em suas curvas, tudo aquilo que o sertão não deixou esquecer.

O município, hoje com mais de 2.400 km², vive essencialmente da força agropecuária, mas suas raízes vão muito além da economia. Fundada em 1668, quando ainda se chamava Santo Antônio da Manga, São Romão nasceu convivendo com os índios caiapós, que habitavam a ilha dividida pelo São Francisco. Foi também território de conflitos intensos: palco de embates entre foragidos, bandeirantes, escravos fugidos e nômades que cruzavam o sertão em busca de sobrevivência.

No século XVIII, vieram os motins do sertão, e o arraial voltou a viver dias de luta sob a liderança de Pedro Cardoso, filho da lendária Maria da Cruz. Depois da calmaria, São Romão floresceu: tornou-se empório comercial, porto movimentado e rota de ouro, moedas e pedras preciosas vindas de Goiás e Mato Grosso.
A vila ganhou o curioso nome de Vila Risonha de Santo Antônio da Manga de São Romão em 1831, até ser elevada a município em 1924. Hoje, mantém sua sede e o distrito da Ribanceira — e guarda, no silêncio das barrancas, histórias que o sertão ainda sussurra para quem sabe ouvir.

Em cada visita, deixo São Romão com a sensação de que ali o Velho Chico fala mais alto. E eu, como viajante atento, apenas recolho suas memórias para dividí-las com quem também busca entender a alma profunda do Norte de Minas.




