Por Aurélio Vidal – O Guardião do Sertão
Essa semana, minhas andanças pelo sertão mineiro me levaram novamente pelas estradas poeirentas que ligam São Francisco à Chapada Gaúcha, coração do nosso Norte de Minas. O cenário, por vezes, parecia de um sertão ferido: as matas secas do cerrado em chamas, o ar denso tomado por fumaça, e o céu tingido de um vermelho triste, como se o próprio sol chorasse a perda da vida que a estiagem castiga há meses.
Mesmo com as primeiras nuvens anunciando a chegada da temporada chuvosa, ainda são visíveis os resquícios da seca que se estendeu por quase meio ano. O chão rachado, os córregos silenciados e a vegetação crestada pela falta d’água contam uma história antiga — a de um povo que resiste entre o calor e a esperança.

Em 133 municípios mineiros, a estiagem foi tão severa que obrigou as prefeituras a decretarem situação de emergência. Desses, 123 estão no semiárido mineiro, espalhados pelos vales do Jequitinhonha, Mucuri e o nosso Norte — regiões onde a irregularidade das chuvas é quase uma sina. São centenas de milhares de pessoas que ainda dependem da boa vontade do céu ou da chegada dos caminhões-pipa, coordenados pela Defesa Civil, para garantir o mínimo de água.
Enquanto cruzava as veredas da Chapada Gaúcha, pensei em Guimarães Rosa e na força poética do sertão, onde tudo é luta e renascimento. Mas ver o cerrado arder, as reservas florestais consumidas pelas labaredas, é testemunhar um grito mudo da natureza pedindo socorro. O fogo, que sempre fez parte do ciclo natural do bioma, agora se espalha com fúria, alimentado pela seca prolongada e pelo descuido humano.
Não é só o nosso norte que sofre. No Vale do Mucuri e a região Leste de Minas (Zona da Mata), o Estado de Alerta Hídrico mostra que a estiagem atravessou serras e vales, atingindo até as terras onde a água costumava correr farta.
Mesmo assim, sigo acreditando na força desse chão e desse povo. No sertão mineiro, a esperança é o que nunca seca. A gente aprende a esperar o barulho da chuva como quem espera um milagre. Porque, quando ela vem, o cerrado se refaz, o verde renasce, e o coração do sertanejo volta a bater mais forte — ao compasso da vida que insiste em recomeçar.
								
															



