Por Aurélio Vidal
Não pisei nos corredores polidos da COP 30. Não acompanhei de perto os discursos inflamados, nem os tapetes sustentáveis feitos para impressionar delegações estrangeiras. Acompanhei tudo daqui, do meu lugar de fala: o sertão norte-mineiro, onde a natureza é vida real e não vitrine internacional.
E foi justamente observando de longe, mas com o olhar treinado por anos de estrada e reportagem, que absorvi a verdadeira dimensão do fiasco. Enquanto rios de dinheiro eram despejados em estruturas luxuosas — erguidas às pressas, com árvores derrubadas em nome de uma “sustentabilidade” de fachada —, eu via comunidades inteiras daqui convivendo com a falta de saneamento básico, problema que nunca entrou na lista de prioridades dos mesmos que hoje posam de defensores do planeta.

O que se viu na COP 30 foi a repetição do velho roteiro:
grandes discursos para o mundo, pequenas ações para quem realmente precisa.
E é impossível não traçar paralelos.
Da mesma forma que fizeram em Altamira, no Pará — onde povos indígenas e comunidades tradicionais foram esmagados pelo peso de grandes projetos disfarçados de desenvolvimento —, aqui no Norte de Minas o nosso povo sertanejo também sofre. O sistema avança com promessas verdes, mas suas práticas são cinzentas: opressão, burocracia, criminalização cultural e ambientalização da pobreza.
É chocante perceber como uma pauta tão séria vem sendo sequestrada por interesses bilionários. A crise climática virou indústria. A defesa ambiental virou negócio. E enquanto poucos lucram, muitos perdem.
Aqui no sertão, vejo pequenos agricultores sendo tratados como vilões, enquanto grandes empreendimentos seguem livres, leves e soltos. Vejo geraizeiros, vazanteiros, ribeirinhos e quilombolas encurralados por regras forjadas longe daqui, sem diálogo, sem compreensão, sem respeito pelas tradições que mantiveram essas terras vivas por séculos.

E tudo isso acontece enquanto, lá longe, nas grandes mesas da COP 30, discutem “soluções globais”.
Mas se não olham para o Brasil profundo, que solução é essa?
De que serve plantar discursos enquanto arrancam árvores?
De que serve propor metas climáticas enquanto populações inteiras vivem sem água tratada?
De que serve falar em proteger o planeta quando quem protege a terra — de verdade — é ignorado, oprimido e até multado?
Do meu canto do sertão, sigo acompanhando e denunciando.
Não como quem assiste a um espetáculo, mas como quem sente na pele os efeitos de decisões tomadas sem olhar para nós.
A pauta ambiental só será legítima quando reconhecer o valor de quem vive da terra e com a terra. Enquanto continuar servindo a interesses bilionários travestidos de boa intenção, seguirá sendo o que a COP 30 revelou de forma tão clara:
uma contradição monumental, um grande negócio, um teatro onde o planeta é argumento, não prioridade.




