Por Aurélio Vidal
Nasci e cresci neste chão vermelho de poeira e lembranças. Sou filho do Major Prates — bairro que me viu menino correndo pelas ruas de terra, e hoje me vê homem, ainda curioso, ainda apaixonado por essa gente e por essa história que pulsa viva em cada esquina.
Bons tempos em que frequentávamos a barragem do rio Carrapato.
Dizem que o tempo apaga as coisas. Mas o Major Prates não. Ele amadurece, se reinventa, se orgulha. Já foi discriminado, chamado de bairro pobre, periferia sem futuro… Mas se tornou um dos maiores centros comerciais fora da área central de Montes Claros. Hoje é cidade dentro da cidade. E é daqui que nasce este novo projeto: uma série semanal de relatos, fatos e memórias vivas do nosso bairro.
E, como todo começo pede reverência, abrimos esta jornada lembrando o casal que deu origem a tudo: Milton Prates e Dona Genoveva.
As raízes do bairro
Era início dos anos 1960.
Milton Prates, homem de visão e de palavra, e Dona Genoveva, mulher de fé e doçura, decidiram transformar uma fazenda de família em algo muito maior: um bairro onde o trabalhador pudesse ter seu chão, sua casa, sua esperança.
Em 1964, o Bairro Major Prates foi oficialmente registrado em cartório — nascia um projeto ousado, popular, humano.
Naquele tempo, até o vaqueiro, o servente e a doméstica conseguiam comprar seu lote. E como dizem os antigos: “Quem comprava ali, comprava também um pedaço de futuro.”
Personagens que fizeram história – Ainda vivem por aqui João Vaqueiro e seu Osvaldo, dois homens simples e orgulhosos, que trabalharam na antiga fazenda com o casal Prates. Gente que viu o bairro nascer do zero, que arou terra, abriu estrada, levantou cerca e, depois, levantou também a própria casa.
Conversar com eles é como abrir um livro antigo: cada palavra vem carregada de saudade, suor e verdade. E como esquecer das figuras pitorescas que moldaram a alma do Major?
A famosa Venda do Zarú, ponto de encontro dos fregueses e dos causos de esquina.
O Feliciano, sempre bem-humorado, e o lendário Mazaropi, que animava rodas de conversa e fazia o povo rir até tarde.
As noites boêmias também têm seu capítulo. Os cabarés da Luz Vermelha e do Goiabão faziam o bairro ferver em música, risadas e histórias que hoje viraram memória. Era o tempo em que os seresteiros encantavam as madrugadas, e o perfume da madrugada se misturava ao som dos violões e gargalhadas perdidas.
O parque e o restaurante do Seu Edmar
No coração do bairro, o Parque Municipal Milton Prates é símbolo de generosidade.
Foi doado por Milton para ser espaço de todos, e não de poucos.
Ali, entre árvores centenárias e o espelho d’água que reflete o pôr do sol de Montes Claros, resiste outro símbolo: o restaurante do Seu Edmar Rosa, que está por lá desde 1970.
Um bairro que virou cidade
Hoje, o Major Prates é um gigante pulsante.
Comércio forte, feira tradicional, igrejas, escolas, praças e um povo que não se enverga.
Quem passa pela Avenida Francisco Gaetani, pela Castelar Prates ou pela Coração de Jesus, sente essa energia: o vaivém das pessoas, o cheiro de pão quente, o ronco dos motores, o burburinho do progresso.
Mas por trás de tudo isso há algo mais profundo: a dignidade conquistada com trabalho, fé e solidariedade.
Uma história em capítulos
Este é apenas o primeiro relato de uma longa caminhada.
A cada semana, trarei aqui novas histórias, curiosidades e personagens que construíram o Grande Major Prates— gente que plantou raízes, ergueu muros, criou filhos e escreveu a própria história nas calçadas deste bairro.
Porque o Major Prates não é só o lugar onde nasci.
É o lugar onde aprendi que nenhum sonho é pequeno demais quando nasce no coração de um povo grande.