Por Aurélio Vidal
O município de Pirapora foi o ponto de partida da fruticultura irrigada no Norte de Minas. Depois veio o Projeto Jaíba — o segundo grande capítulo dessa história que acompanhei de perto, ainda como mascate, quando vendia minhas mercadorias e ouvia os relatos esperançosos de quem chegava àquela terra nova.
A ideia do Jaíba surgiu nos anos 1960, mas foi na década seguinte que a CODEVASF iniciou a construção da infraestrutura básica: canais principais e secundários, estradas, sistemas de irrigação.
Lembro bem: no final dos anos 1980, vi de perto o assentamento das primeiras famílias na região. O brilho nos olhos daqueles agricultores não me sai da memória — homens e mulheres que deixavam suas terras de origem para plantar um sonho no sertão mineiro. Com a enxada numa mão e a esperança na outra, apostaram tudo naquela terra brava.
Hoje, Pirapora e Jaíba são marcos da fruticultura irrigada em Minas Gerais. Frutos de políticas públicas bem pensadas, mas também da força de quem acreditou no sertão. São projetos que mudaram paisagens, transformaram destinos e provaram que, com trabalho e visão, o sertão também pode ser lugar de abundância.
E agora, com os pés firmes nessa trajetória e os olhos voltados para o futuro, germinamos um novo sonho. Após uma conversa inspiradora com o engenheiro Luiz Curado — servidor da Codevasf em Brasília — decidimos lançar um novo projeto, mais modesto em escala, sem as grandes irrigações, mas não menos ambicioso em propósito. Foi ali que nasceu a semente do “Sertão Frutificado”: uma iniciativa que busca incentivar pequenos produtores a investir na fruticultura, apontando novos caminhos através do cultivo de culturas até então improváveis por aqui.
Mas foi em 2021 que a proposta encontrou solo fértil, nas terras do produtor Jorge Molon — o “Gaúcho”, como é conhecido no município de Curral de Dentro. Foi com ele que começamos a traçar uma nova caminhada, voltada para ampliar a cadeia produtiva da fruticultura no Alto Sertão mineiro, agora com foco na agricultura familiar.
Nosso objetivo é simples e poderoso: transformar pequenas propriedades em celeiros de inovação e prosperidade. Estamos apostando no cultivo de frutas de alto valor comercial como pera, ameixa, maçã, mirtilo (blueberry) e até mesmo açaí — espécies que até pouco tempo pareciam incompatíveis com o nosso solo seco, mas que, com tecnologia, assistência técnica e vontade política, já começam a brotar com vigor.
Mais do que plantar frutas, estamos cultivando futuro. Emprego, renda, autoestima e esperança. Porque o sertanejo sabe esperar, sabe lutar — só precisa de oportunidade.Ao celebrar os 50 anos do Perímetro Irrigado de Pirapora, homenageamos também os frutos de Jaíba e os novos brotos do Sertão Frutificado. O que começou com água e sonho, hoje se espalha em raízes firmes, fincadas no coração de um povo que nunca deixou de acreditar no sertão.
No último final de semana, tive o privilégio de conhecer outro personagem importante dessa nova fase da fruticultura sertaneja: Geraldo Élcio é o nome da fera!
Criador do projeto “Pera, Uva ou Maçã”, ele formou um grupo que incentiva o cultivo de frutas não convencionais no cerrado, com foco especial na agricultura familiar e na geração de trabalho e renda.
Segundo Geraldo, a nossa região tem clima e altitude propícios ao cultivo de frutas, com destaque para a grande variação térmica entre o dia e a noite — fator determinante para a qualidade das safras.
Foi no último sábado (02/08), durante uma de suas ações na comunidade rural da Lagoinha, em Montes Claros, que pude conhecê-lo melhor. Geraldo já atua fortemente em localidades como Planalto Rural (Pentáurea), Lagoinha e Santa Rita de Cássia. Nessas comunidades, várias mudas foram distribuídas — doadas pelo Gaúcho (com apoio do saudoso Simael) — e o plantio já começou. A expectativa é de que as primeiras colheitas ocorram ainda este ano, graças ao uso de mudas enxertadas, que aceleram o processo produtivo.
As primeiras frutas de maçã, já estão surgindo na comunidade da Lagoinha.
Durante a visita, acompanhamos um dia de campo com produtores locais, que receberam orientações técnicas do próprio Jorge Molon.
Sobre o Gaúcho, cabe aqui o merecido destaque: Jorge Molon, além de produtor e pesquisador, é um verdadeiro entusiasta do sertão. Morador de Curral de Dentro, ele lidera capacitações no manejo da fruticultura, produz mudas em sua própria propriedade e distribui conhecimento com generosidade.
O nome do grupo idealizado por Geraldo — “Pera, Uva ou Maçã” — evoca a memória afetiva da infância e faz um convite direto: é hora de escolher plantar. Porque o sertão, com seus ventos e silêncios, está pronto para florescer de novo.
Confesso que saí da Lagoinha com o coração renovado. O brilho no olhar dos participantes daquele dia de campo dizia tudo: o sonho já começou a frutificar. Agora somos três — eu, Jorge Molon e Geraldo Élcio — unidos por um mesmo propósito: fazer brotar esperança no sertão.