Por Aurélio Vidal – Jornalista
Em minhas andanças pelo sertão norte-mineiro, tenho presenciado de perto a luta diária da nossa gente quando o assunto é saúde pública. De município em município, a realidade se repete: filas, deslocamentos longos e, muitas vezes, o sofrimento dobrado de quem já está fragilizado pela doença. A concentração do atendimento hospitalar em Montes Claros, embora importante, se tornou um gargalo que compromete a dignidade da população da região.
Em recente conversa com Ronaldo Soares Mota Dias, prefeito de São João da Lagoa e atual presidente da AMAMS (Associação dos Municípios da Área Mineira da Sudene), ele foi enfático: é urgente fortalecer os hospitais microrregionais do Norte de Minas. Essa medida, segundo ele e também segundo minha própria vivência em campo, é fundamental para desafogar Montes Claros e garantir um atendimento mais ágil, humano e acessível.
Não faltam estruturas básicas em cidades que já são polos naturais de referência. Passei por algumas delas e vi que há condições de ampliação. Mas não basta o prédio: é preciso investir em corpo clínico, em enfermeiros, em manutenção e até em serviços básicos como a limpeza hospitalar. É preciso valorizar os profissionais da saúde com salários compatíveis com a difícil missão que carregam. Sem isso, toda a engrenagem emperra.
Ronaldo destacou ainda que as entidades municipalistas desempenham papel decisivo na defesa dos interesses da população. Muitas vezes, os prefeitos são injustamente criticados, mas o que vejo é que o desafio deles é real e descomunal. Ele citou o exemplo de Ézio Mota Dourado, de Miravânia, homem de trajetória longa e exemplar na vida pública, como referência de compromisso com o povo.
Outro ponto trazido por Ronaldo é que o debate sobre unificação das microrregiões de saúde de Coração de Jesus e Pirapora é, na prática, um retrocesso. Um paciente de São João do Pacuí, por exemplo, teria de percorrer quase 200 km para ser atendido, quando hoje percorre apenas a metade desse trajeto até Montes Claros. É inadmissível que, em nome de ajustes burocráticos, se imponha ainda mais sofrimento a quem já enfrenta tanto.
Eu estive em Grão Mogol, numa fundação hospitalar com mais de 50 anos de história, e confesso: o que vi foi desolador. Estrutura que resiste no tempo, mas sem condições dignas de atendimento por falta de suporte do Ministério da Saúde. Essa é a realidade que se repete em tantas outras cidades do Norte de Minas – hospitais que poderiam salvar vidas, mas que se veem paralisados pela ausência de investimentos.
A verdade é que não se trata apenas de política, mas de humanidade. Se quisermos de fato olhar para o futuro do sertão mineiro, precisamos enxergar que o fortalecimento dos hospitais microrregionais é mais que uma demanda administrativa: é uma questão de vida ou morte para milhares de nortemineiros.