Escrevo de Manga, às margens do Velho Chico, onde o vento sopra histórias e a população guarda na memória meio século de espera. Hoje, 21 de agosto, testemunhei um marco histórico: o Governo de Minas deu a ordem de início para a construção da tão sonhada ponte que ligará Manga a Matias Cardoso, atravessando o majestoso Rio São Francisco.
O documento, assinado em solenidade com a presença do governador Romeu Zema e do vice-governador Mateus Simões, autoriza o consórcio Ponte Francisco, vencedor da licitação conduzida pelo DER-MG, a iniciar os trabalhos. O que por décadas foi promessa, agora ganha forma de compromisso concreto.
Zema não escondeu a satisfação: “Estou muito feliz com o anúncio da ordem de início dessa obra, que já foi prometida tantas vezes e nunca iniciada. No mês que vem já teremos equipamentos e máquinas operando. Não é uma obra que vai parar: o recurso está definido e só será liberado à medida que a obra avançar”, garantiu.
A ponte é parte do programa Caminhos pra Avançar, o maior pacote de obras de infraestrutura rodoviária das últimas décadas em Minas. Mais do que concreto e aço, ela representa integração regional, encurtando distâncias entre o Norte, o Noroeste de Minas, o Oeste da Bahia e a BR-135.
Mateus Simões destacou o impacto na economia: “Essa obra vai transformar a realidade do lado de cá do São Francisco. A fruticultura e a agricultura irrigada sempre enfrentaram dificuldades pela falta de conexão. Agora, poderemos desenvolver um verdadeiro polo de fruticultura e impulsionar todo o Norte de Minas”.
E os benefícios vão além. A ponte reduzirá o tempo de viagem, dará mais segurança a motoristas, facilitará o deslocamento de estudantes e trabalhadores, especialmente os do Projeto Jaíba — o maior projeto público de irrigação em área contínua da América Latina — e abrirá novas portas para o turismo, sobretudo no Vale do Peruaçu, Patrimônio Natural Mundial da Unesco.
O investimento é de aproximadamente R$ 250 milhões, oriundos do Acordo Judicial de Brumadinho, firmado entre o Governo de Minas, MPMG, MPF, DPMG e a Vale, como compensação pelo rompimento da barragem que tirou 272 vidas e deixou cicatrizes profundas em Minas Gerais.
A licitação dessa obra foi a primeira no estado a incluir a chamada cláusula de retomada, prevista na Nova Lei de Licitações (Lei 14.133/2021). Isso significa que, caso a empresa vencedora descumpra o contrato, a seguradora deverá indenizar o Estado em até 30% do valor ou assumir a execução. Como explicou Rodrigo Rodrigues Tavares, diretor-geral do DER-MG: “Esse povo espera essa obra há 50 anos e a gente tem que fazer ela com a maior presteza possível”.
A grandiosidade do projeto impressiona: serão 1.160 metros de ponte, largura de 13,8 metros com passeios para pedestres, uma variante de 2.940 metros conectando às rodovias MG-401 e MGC-135, além de três interseções que darão acesso às cidades e comunidades vizinhas. Todo o pavimento utilizará asfalto-borracha, produzido a partir de pneus descartados — tecnologia que alia durabilidade e sustentabilidade.
Ao deixar Manga neste dia histórico, vejo que não se trata apenas de levantar uma ponte. Trata-se de unir sonhos, encurtar distâncias e lançar novas esperanças sobre as águas do São Francisco.
Assino com a certeza de que este é um divisor de águas na história do nosso Norte de Minas.
Aurélio Vidal – Jornalista