Por Aurélio Vidal
Durante minhas andanças jornalísticas pelo Norte de Minas, poucas histórias me tocaram tanto quanto esta — não apenas pelo teor humano, mas também pelo simbolismo que carrega: o de ver a justiça, de fato, acontecer.
Falo do casal Antônio Vinícius de Novais Cardoso e Géssica (ou Gessyca) Martins Novais, naturais do nosso sertão mineiro, ele da querida cidade de Salinas, ela também do Norte de Minas. O casal foi injustamente acusado de fraude no setor de seguros nos Estados Unidos, em um episódio que ganhou ampla repercussão na imprensa brasileira — especialmente entre os veículos mineiros e regionais, que logo transformaram a notícia em manchete.
Na época, em maio de 2025, os portais estampavam títulos duros, reproduzindo informações oficiais do Condado de Orange, na Flórida, sem que se soubesse do que estava realmente por trás de tudo. O Gazeta Brazilian News, um dos veículos brasileiros mais lidos entre a comunidade de imigrantes, chegou a noticiar que o casal havia sido preso por atuar ilegalmente como agentes de seguros — e que sequer teriam direito a fiança.
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Mas a verdade, como o próprio Vinícius me contou nesta semana, foi bem diferente.
“Tudo não passou de uma armação”
Estive pessoalmente na casa do casal, que hoje reside em Montes Claros, para ouvir de perto sua versão — e, principalmente, para entender como tudo aconteceu.
Vinícius, a quem conheço há mais de vinte anos, desde os tempos em que ele morava em Taiobeiras com seus pais — gente simples, trabalhadora e de reputação ilibada —, relatou com serenidade, mas visível indignação, que tudo não passou de uma armação do seu ex-patrão, um também brasileiro radicado nos EUA.
Segundo ele, a motivação seria meramente comercial: ao receber uma proposta de emprego mais vantajosa de uma empresa concorrente, o antigo patrão, movido por vingança e despeito, teria feito denúncias falsas às autoridades locais, levando à prisão preventiva do casal.
“Eu sabia que a verdade ia aparecer. Lá, a lei funciona, e quem mente responde”, disse-me Vinícius, com a convicção de quem passou meses confiando na justiça americana.
A justiça foi feita
Três meses depois do ocorrido, o caso começou a se esclarecer. E agora, em outubro de 2025, o Tribunal do Condado de Orange finalmente reconheceu o que Vinícius e Géssica diziam desde o início: eram inocentes.
A decisão oficial do Ministério Público da Flórida determinou o encerramento definitivo do processo criminal, a limpeza dos registros e a restituição integral da fiança paga — que, diferentemente do que foi divulgado na época, existiu e foi quitada para que o casal pudesse responder em liberdade e regressar ao Brasil.
O Gazeta Brazilian News, de forma ética e responsável, publicou o direito de resposta e retificou a matéria anterior, reconhecendo que o casal foi absolvido integralmente e que não houve qualquer indício de fraude.
Recomeço e reparação
Hoje, Vinícius e Géssica retomam a vida em solo mineiro, com o alívio de quem superou um dos capítulos mais difíceis de sua trajetória. O casal já deu início às ações judiciais por danos morais, tanto contra o ex-empregador — o responsável direto pelas falsas acusações — quanto contra o condado da Flórida, que, mesmo de boa-fé, acabou sendo instrumento de uma injustiça.
“Perdemos noites de sono, amigos se afastaram, e nossas famílias sofreram. Mas hoje temos a consciência tranquila e o nome limpo”, afirmou Géssica, emocionada.
Para mim, como jornalista e como amigo de longa data da família, é um alento ver o desfecho dessa história. A verdade demorou, mas prevaleceu.
E fica aqui a reflexão: num tempo em que a informação se espalha com a velocidade de um clique, é preciso sempre olhar além das manchetes. Por trás de cada nome citado em uma notícia, há uma vida, uma história e, sobretudo, o direito inalienável à presunção de inocência.
Aurélio Aparecido Santos Vidal
Jornalista – Montes Claros/MG
Registro: MG 08871-JP




