Por Aurélio Vidal
A proposta de privatização da Copasa, encaminhada pelo governador Romeu Zema à Assembleia Legislativa de Minas Gerais por meio do Projeto de Lei nº 4.380/25, desperta crescente preocupação, especialmente entre lideranças municipais do Norte de Minas e instituições representativas do setor.
O temor central é que a iniciativa privada não priorize os pequenos municípios, sobretudo os localizados em regiões semiáridas, onde o serviço de água e esgoto não é lucrativo. Ronaldo Soares Mota Dias, presidente da AMAMS e prefeito de São João da Lagoa, reforça que o edital de privatização deve obrigatoriamente prever investimentos garantidos e tarifas diferenciadas para essas localidades:
“Se privatizar a Copasa, esperamos que o serviço seja melhorado. Mas é fundamental que haja tarifas adequadas e investimentos 100% voltados ao saneamento básico”, alerta.
Outro ponto crítico é o futuro da Copanor, subsidiária criada em 2007 para atender regiões deficitárias do Norte e Nordeste de Minas, incluindo os vales do Jequitinhonha e do Mucuri. Sem regras claras de concessão, há risco de que a população das áreas mais pobres do estado seja prejudicada.
Por outro lado, permanecer sob controle estatal também não é garantia de eficiência. Principalmente se caso a Copasa for repassada para as mãos do governo federal. Correrá o sério risco de repetir a velha prática de uso político das estatais, com distribuição de cargos para aliados e ampliação de salários de conselheiros, em detrimento do serviço à população. Experiências passadas, como no governo Fernando Pimentel, mostraram que Copasa e Cemig se transformaram em balcões de acomodação política, com prejuízo para a gestão e para o cidadão.
Eu, particularmente, torço pela privatização. Mas que ela venha acompanhada de condicionantes firmes, que preservem e beneficiem os pequenos municípios. Ainda assim, mantenho minha preocupação com o risco de vermos empresas como a Copasa e a Cemig caírem nas mãos do já conhecido devorador de estatais.
Portanto, a discussão sobre a privatização não pode se limitar a um debate ideológico. Trata-se de decidir se Minas Gerais terá empresas de saneamento eficientes, capazes de atender de forma justa tanto grandes centros quanto municípios pequenos e vulneráveis, ou se continuará à mercê de interesses políticos que corroem os recursos públicos. O futuro da Copasa não pode ser mais um capítulo de descaso e desperdício do patrimônio do povo mineiro.
Em minhas andanças pelo Vale do Jequitinhonha, eu estive na comunidade de Malhada Preta ( região do Girau), zona rural de Araçuaí, ali, a população ainda enfrenta a dura realidade de depender da água levada em caminhões-pipa.